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quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Os Ritos


Porque a religião liga humanos e divindade, porque organiza o espaço e o tempo, os seres humanos precisam garantir que a ligação e a organização se mantenham e sejam sempre propícias. Para isso são criados os ritos. Vemos então que o rito é outra característica comum a todas as religiões.
O rito é uma cerimônia em que gestos determinados, palavras determinadas, objetos determinados, pessoas determinadas e emoções determinadas adquirem o poder misterioso de presentificar o laço entre os humanos e a divindade. Para agradecer dons e benefícios, para suplicar novos dons e benefícios, para lembrar a bondade dos deuses ou para exorcizar sua cólera, caso os humanos tenham transgredido as leis sagradas, as cerimônias ritualísticas são de grande variedade. No entanto, uma vez fixada os procedimentos de um ritual, sua eficácia dependerá da repetição minuciosa perfeita do rito, tal como foi praticado na primeira vez, porque nela os próprios deuses orientaram gestos e palavras dos humanos. Um rito religioso é repetitivo em dois sentidos principais: a cerimônia deve repetir um acontecimento essencial da história sagrada (por exemplo, no cristianismo, a eucaristia ou a comunhão, que repete a Santa Ceia); e, em segundo lugar, atos, gestos, palavras, objetos devem ser sempre os mesmos, porque foram, na primeira vez, consagrados pelo próprio deus. O rito é a rememoração perene do que aconteceu numa primeira vez e que volta a acontecer, graças ao ritual que abole a distância entre o passado e o presente.
ESTUDO DIRIGIDO
-O texto abaixo do filósofo e historiador Mircea Eliade trata dos “ritos”. Leia atenciosamente o texto para em seguida responder as questões. ............................................................................................................................................................................. Cada ritual tem um modelo divino, um arquétipo; este fato é suficientemente conhecido por nós, para que possamos nos restringir ao uso de alguns exemplos apenas. "Temos de fazer o que os deuses fizeram no princípio" (Satapatha Brahmana, VII, 2, 1, 4). "Assim fizeram os deuses; assim fazem os homens"(Taittiriya Brahmana, I, 5, 9, 4). Este provérbio indiano sintetiza a teoria que fundamenta os rituais em todos os países. Podemos encontrar esta teoria entre os chamados povos primitivos, do mesmo modo como a encontramos nas culturas mais desenvolvidas. Os aborígines1 da região sudeste da Austrália, por exemplo, praticam a circuncisão2 com uma faca de pedra, porque foi assim que seus ancestrais lhes ensinaram a fazer; os negros amazulu fazem o mesmo, porque Unkulunkulu (herói civilizador) decretou em tempos idos"Que os homens sejam circuncisos, para que não sejam meninos". [...]É inútil a multiplicação dos exemplos; todos os atos religiosos são considerados como tendo sido fundados pelos deuses, pelos heróis civilizadores, ou por ancestrais míticos. [...] O sábado judeu-cristão também é uma “imitação de Deus”O descansosabatino3 reproduz o gesto primordial do Senhor, pois foi no sétimo dia da Criação que Deus "...descansou depois de toda a sua obra de Criação" (Genesis 2,2). A mensagem do Salvador é, antes de mais nada, um exemplo que exige imitação. Depois de lavar os pés de seus discípulos, Jesus lhes disse: "Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, também vós o façais" (João 13,15).
[...] Os rituais do casamento também contam com um modelo divino, e o matrimônio humano reproduz a hierogamia4 [...] Na Grécia, os rituais do casamento imitavam o exemplo de Zeus, unindo-se em segredo com Hera (Pausânias, II, 36, 2). [...] Todo o simbolismo paleo-oriental5 do casamento pode ser explicado por meio de modelos celestiais. Os sumérios6 celebravam a união dos elementos no dia de Ano Novo; através de todo o Oriente primitivo, o mesmo dia adquiriu sua fama não só por causa do mito da hierogamia, mas também pelos rituais de união do rei com a deusa. É no dia de Ano Novo que Ishtar deita- se com Tammuz, e o rei reproduz essa hierogamia mítica, consumando uma união ritual com a deusa (isto é, com a escrava do templo, que a representa na Terra) numa câmara secreta do templo, onde fica a cama nupcial da deusa. A união divina garante a fecundidade7 terrena; quando Ninlil deita-se com Enlil, a chuva começa a cair. A mesma fecundidade é garantida por meio da união cerimonial do rei, a dos casais na Terra, e assim por diante. O mundo é regenerado8 toda vez que a hierogamia é imitada, isto é, sempre que se consuma a união matrimonial (Mircea Eliade. “Mito do eterno retorno).

1. O que os rituais religiosos tomam como modelo?
2. Nos rituais de casamento qual acontecimento os homens pretendem imitar? 3. Que resultados espera-se atingir por meio dos rituais de casamento?