Desconstruindo estereótipos e reconhecendo demandas
Precisamos
repensar, com todo cuidado, a relação entre drogas, violência e
juventude considerando a complexidade que se coloca nesta questão.Apenas
drogas e violência já é um tema carregado de representações sociais que
necessitam ser desconstruídas. Vocês sabiam que as pesquisas em
psicologia social apontam que o estereótipo do antigo binômio pobreza =
violência foi substituido no imaginário social pelo estereótipo drogas =
violência ?
Ainda
temos um terceiro desafio que é a automática associação entre drogas e
juventude e também entre violência e juventude. Com este discurso e por
esta lógica simplista acabamos colocando uma marca negativa na juventude
brasileira: basta ser jovem para ser ou drogado, ou violento ou ambos
drogado e violento.
Identificamos
como especialmente tendenciosa e falsa a pergunta: - os jovens estão
tão violentos porque se drogam? Ou (pior ainda) – se drogam porque
querem ser violentos?
Neste
momento histórico em que o Governo Federal dirige-se aos jovens,
através da SENAD neste Mundo Jovem, a primeira palavra que dirigimos aos
jovens brasileiros leitores desta página é de que acreditamos em sua
força transformadora, em sua luta por um mundo melhor e pela construção
de um Brasil cada vez mais brasileiro. Saibam que enquanto nos países do
primeiro mundo a juventude é uma categoria dentre as minorias, no ano
de 2007, no Brasil, a população de jovens será a mais numerosa e isto
representa uma imensa força: a força jovem que representa o nosso grande
capital e que, portanto, deve constituir o grande investimento de
nossas politicas públicas. E é neste espírito que me dirijo em primeiro
lugar aos jovens, mas também aos profissionais e, em especial, aos
gestores das políticas publicas com este convite e apelo: vamos mudar
esta mentalidade que associa juventude a drogas e violência e
reconheçamos nos jovens o que este País tem de melhor!
Neste
contexto, sim, pensemos , e muito seriamente: Como ajudá-los a
enfrentar todos os apelos e mesmo a imensa pressão existente na nossa
sociedade para o consumo de drogas? Esta é a verdadeira questão: Como
diminuir os apelos dacultura
aditiva e da cultura de violência que caracterizam a sociedade atual?
Refiro-me, aqui, às tantas violências as quais os jovens estão expostos
no seu percurso cotidiano: a violência da mídia que transmite
informações enganosas e trazidas pelos seus próprios ídolos; a violência
da falta de controle na compra das drogas lícitas; a violência do
mercado de distribuição das drogas ilícitas que os recruta sutil e
irremediavelmente para o mundo do tráfico- onde desnecessário dizer- a
violência é a lógica e a cultura vigente.
Penso
que a primeira violência a ser combatida é a do discurso da juventude
violenta e drogada que gera distanciamento dos jovens, impedindo que os
conheçamos em sua natureza sonhadora e que os comprendamos em suas
expressões por mudanças.
Em
minha experiência como terapeuta de adolescentes e como pesquisadora na
área, estou convencida que o jovem ao buscar as drogas tem uma demanda e
esta não é de destruição nem de si mesmo e nem do outro ou da
sociedade. Não acredito que a drogadição, mesmo em seu grau mais
comprometido, seja um comportamento destrutivo. Reconheço no ato de
drogar-se o valor de um ato que tem um sentido o qual precisa ser
reconhecido e conhecido: em primeiro lugar pelo próprio usuário (seja
ele jovem ou adulto), mas também por aqueles que o cercam. Quando nos
debruçamos sob este prisma da compreensão e do valor deste sintoma como
comunicação - geralmente bloqueada por outras vias - já fizemos a
mudança necessária e passamos a estar de outra forma com o jovem: como
um sujeito que nos demanda, que nos pede que nos fala de si e de nossa
relação com ele.
Compreender
e atuar nesta área nos exige, antes de tudo, um crédito nos potenciais
da juventude e um compromisso com eles na busca dos seus sonhos. Mas
quais são os sonhos da juventude brasileira?
Pensemos:
será que esta anestesia com as drogas, em vez de uma busca pela
violência ou de uma alienação face às dificuldades que enfrentam, não
seria um grito de alerta para que os adultos reparem melhor nas suas
necessidades e anseios? Pensemos diferente: consumir drogas não é uma
doença; é, antes, um sintoma. Um sintoma é um sinal; é uma comunicação;
seria como a febre que nos indica que algo não está bem. Neste sentido
não é uma doença. Não é um problema mas é uma equivocada busca de
solução . Neste sentido, buscar drogas seria uma espécie de febre da
alma ou do coração ou da emoção.
Se
pensamos de forma diferente, percebemos diferente e podemos, então,
agir de forma diferente: visualizamos, assim, uma postura mais clínica e
compreensiva e a pergunta já é outra: - Do que sofrem os jovens que
buscam as drogas? O que reivindicam? Quais denúncias expressam através
deste ato? Por quais mudanças estão lutando? Para desafiar os próprios
jovens leitores do Mundo Jovem, lanço a minha hipótese: os jovens
denunciam a violência vivida em seu dia que pode ser em diferentes
níveis e de naturezas diversas. Finalizo desafiando os leitores a
prosseguirem nesta reflexão levantando suas próprias hipóteses sobre
quais seriam as violências vividas que justificam a demandas dos jovens
pelas drogas e sua relação com as tantas violências das quais são alvo,
mas não são apenas vítimas pois que estão reagindo.
Maria Fátima Olivier Sudbrack Doutora em Psicologia ( Université de ParisXIII) e Pós-doutora em Psicossociologia ( Université de Paris VII)
Professora Titular do Departamento de Psicologia Clinica/Instituto de Psicologia /Universidade de Brasília
Pesquisadora do CNPq
Coordenadora do PRODEQUI- Programa de Estudos e Atenção às Dependências Químicas/PCL/IP/UnB
Psicóloga clinica, terapeuta de familias e de adolescentes
Um comentário:
é nois memo lek
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