A
liberdade é motivo para reflexão de filósofos desde muito antes de
Sartre, tanto na área do direito, especificamente, como na tradição
filosófica em si.
Na
declaração dos direitos do homem e do cidadão consta que liberdade
individual caracteriza-se pelo poder de "fazer tudo o que não for nocivo
a outrem; assim, o exercício dos direitos naturais de cada um não tem
outros limites além daqueles que asseguram aos outros membros da
sociedade dos mesmos direitos" (Vicente, 1985, v. 07, p. 2159).
O
interesse pelo tema da liberdade humana vem permeando os estudos dos
filósofos desde seu princípio. Em Platão podemos perceber que a
liberdade individual é capaz de atribuir mérito ou demérito, segundo os
atos realizados pelo próprio indivíduo, sendo que as leis são o peso
utilizado para denominar o mérito ou não. Podemos ainda apontar o
conceito de liberdade assegurado pelos estóicos (Vicente, 1985, v. 5) de
que seria uma adesão espontânea à necessidade natural.
Na
Idade Média os limites da liberdade eram definidos segundo conceitos
elaborados partindo do conflito razão X teologia. Então eram elaborados
basicamente pela religião predominante na Europa, o cristianismo.
Continuando
a linha de análise, na modernidade temos o conceito de Liberdade
elaborado por Descartes, sendo que ele apontou para o que denominou
liberdade de indiferença, caracterizada pela "adesão sem razão a uma de
duas contrárias igualmente possíveis" (Vicente, 1985, v.7, p. 2160), e
afirmou ser esse o grau mais baixo de liberdade humana. Podemos neste
ponto perceber a dicotomia travada entre Teologia X Razão, em que
Descartes acredita que o que é feito sem o uso da razão não assegura a
liberdade completa.
Leibniz
denominou "toda a espontaneidade racional" de liberdade (Vicente, 1985,
v.7, p. 2137), desde que não houvesse a necessidade lógica. Assim, agir
por estar inclinado e não necessitado seria agir livremente.
Analisando
ainda os diversos conceitos filosóficos acerca da liberdade, temos de
Spinoza a descrença no conceito de liberdade, sendo que no ponto de
vista do filósofo, o conceito de liberdade não passa de uma ilusão
produzida pela ignorância das verdadeiras causas. Para Spinoza, a
liberdade verdadeira não é habilidade de escolher algo em detrimento de
outro, mas sim a habilidade de agir de acordo com a natureza de uma
pessoa e agir sozinha (Bergman, 2004). Deus é livre por que é infinito,
já para os humanos, a liberdade consiste em "entender nossos desejos e
nosso lugar no universo como uma causa de deus" (Bergman, 2004, p. 55).
Kant
definiu a liberdade como um postulado da razão prática, caracterizado
pelo imperativo categórico. A declaração dos direitos do homem e do
cidadão certamente baseou-se no conceito kantiano de liberdade:"Age como
se a máxima de tua ação devesse tornar-se mediante tua vontade a lei
universal da natureza" (Kant, 1785 apud Marcondes, 2007, p.123).
Como
é possível averiguar, o tema liberdade tem sido estudado por diversas
escolas filosóficas em todo o decorrer da própria filosofia.
REFERÊNCIAS
BERGMAN,
G. Filosofia de banheiro: Sabedoria dos maiores pensadores mundiais
para o dia-a-dia. Tradução: Caroline Kazue Ramos Furukawa. São Paulo:
Madras, 2004.
KANT, 1785 apud JAPIASSÚ, H e MARCONDES, D. Dicionário básico de filosofia. 4. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 2006.
SILVA,
AS. O conceito de Liberdade segundo a teoria existencialista de Sartre.
Monografia. Brasília: Universidade Católica de Brasília/UCBV, 2010. 42
p.
VICENTE,
O (org.). Enciclopédia Didática de Informação e Pesquisa Educacional.
v. 5. 1. ed. São Paulo: Livraria Editora Iracema, 1985.
VICENTE,
O (org.). Enciclopédia Didática de Informação e Pesquisa Educacional.
v. 7. 1. ed. São Paulo: Livraria Editora Iracema, 1985.
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